terça-feira, 23 de junho de 2009

Síntese para a compreensão histórica dos pombos

Hoje, ao sair de casa, arrumado com uma camisa branca e calça jeans devidamente escolhidas, o acaso me fez vítima, e fui alvo de um pombo oportunista que me alvejou certeiramente com suas fezes. Certamente, quase todo individuo residente nas grandes áreas urbanas do Brasil já foi alvo das fezes de algum pombo. Não obstante, podemos restringir um campo de possibilidades sobre esse acontecimento, e refleti-lo para além da mera constatação do acaso.

Este fato, ou risco cotidiano para as populações das médias e grandes cidades do país, nos fornece uma plêiade de questões históricas interessantes. O Columba livia domestica, nome científico dessa ave parasita, é de origem européia, e a data de sua introdução do Brasil varia entre o século XVI e o século XIX, tempo no qual a columbofilia (criação e treinamento de pombos-correio) tornou-se moda. Afinal, quem nunca viu em filmes ou estórias de temáticas medievais uma cena ou episódio onde alguém em perigo ou numa situação emergencial amarrava um papel com uma mensagem a perna de um pombo e ele chegava ao seu destino, salvando o sujeito na maioria das vezes?

Desde a Idade Média até a Revolução Francesa, a criação e utilização de pombos-correio, o droit de colombier, era privilégio do clero e da nobreza. Não obstante o desenvolvimento dos meios de comunicação, a utilização de pombos-correio foi corrente até meados do século XX, principalmente durante as duas Guerras Mundiais (Em 1948, o governo português concedeu o Estatuto de Utilidade Pública ao pombo correio e a Suíça só desmobilizou seu serviço de pombos correio na década de 1990).

Com o desenvolvimento das cidades e progressiva degradação do meio ambiente, os principais predadores dos pombos, os gaviões, foram desaparecendo, possibilitando o aumento desmedido de suas populações. Aliado a esse aspecto, podemos alentar para a dieta simples e flexível desses animais, que abrange de grãos e sementes a restos de alimentos, pães e lixo. Levando em consideração o aumento da produção de lixo, fruto do aumento das populações e do desperdício causado pelo modo de vida da sociedade capitalista, encontramos um dos principais fatores explicativos para o crescimento imenso da população do Columbia livia domestica durante o século XIX na Europa e no decorrer do século XX no Brasil.

Last but not least, outro aspecto também deve ser considerado: a alimentação voluntária dos pombos pelo ser humano, principalmente por idosos. Com o desenvolvimento dos conhecimentos médicos e a melhoria das condições sanitárias, a expectativa de vida das populações cresceu, e com maior intensidade nas cidades. Concomitantemente, as lutas sociais conquistaram para a classe trabalhadora o direito a aposentadoria e ao usufruto ocioso da velhice. Logo, com a falta de opções culturais da população idosa, o costume de alimentar pombos difundiu-se , e a praça pública passou a ser o lugar preferido de tal prática. Tal característica também tem sua explicação histórica. Durante os séculos XIX e XX, ocorreram mudanças das dinâmicas sociais e do papel simbólico dos espaços urbanos. De abrigo do poder administrativo e político, a praça passou gradualmente a ser também um lugar de lazer (e também projetadas para esse fim).

Assim, há quase dois séculos, os pombos foram se incorporando como parte de nosso cotidiano, adquirindo diversas significações no imaginário social. Primeiramente, como símbolo da paz. Este significado tem origem bíblica, estando presente no capítulo 8º do Genesis, no episódio de Noé, como elo entre Deus e os homens. Com significado similar, representando a união entre todos os povos do mundo, a pomba branca está presente no símbolo das Nações Unidas desde 1999. Assim, em qualquer cerimônia que busca representar a paz e a harmonia, uma ou mais pombas brancas são lançadas aos céus, liberando mais espécimes dessa ave nos céus urbanos.

Outro mito, com forte presença no imaginário popular, refere-se à conotação positiva relacionada ao fato corriqueiro alentado no inicio do texto. Sua interpretação, cujo significado afirma a sorte no devir do alvo do ânus da ave, tem suas raízes vinculadas ao caráter supersticioso das culturas influenciadas pelas religiões pagãs. Se o catolicismo brasileiro sempre manteve interações culturais com os ritos indígenas e africanos, a Igreja Católica européia nunca conseguiu derrotar definitivamente a heresia proveniente das populações pagãs que ocupavam o Ocidente antes, durante e depois da expansão do Cristianismo. A interpretação do vôo dos pássaros, prática mágica dos adivinhos da Roma Antiga, ainda era presente nos séculos XVI e XVII. Nesse período, outra prática costumeira fazia das vísceras e fezes das aves materiais de adivinhação dos hereges. Destarte, as aves sempre fizeram parte dos mitos pagãos, e estes perduraram, sobre a forma de superstição, sendo ressignificado em contextos históricos distintos, até os dias atuais.

Portanto, o pombo pode até constituir-se numa ave parasita, ser um rato com asas, transmitir uma série de doenças e sujar a roupa de transeuntes nos piores momentos possíveis. Porém, sua existência deve ser compreendida historicamente, como um animal que sempre esteve presente nos espaços sociais do homem, que o dotou de funções sociais, o inseriu em suas mitologias e produziu representações sobre a sua imagem no decorrer da História.

Marcelo Lyra

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Como o mar

Como se fosse o mar
às vezes penso na vida
e tentando um sentido
acabo numa epopéia sem fim

Como se fosse trágico
As velas caídas em mortalha
Nessa alma perecida em corpo
(A nau desaparecida)

Sem rumo vou
Sem saber onde estou
Sem porquês de me achar

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A Crença no Método


Todo conhecimento produzido pelo homem funda-se numa crença. Sua legitimidade só existe a partir do momento em que a comunidade em que o enunciado está inserido reconhece sua relevância na compreensão ao qual ele se propõe.

domingo, 15 de março de 2009

O ópio do povo

Excelente trabalho de campo antropológico frequentar uma "pelada" semanal no Rio de Janeiro. Nada contra o caráter lúdico dos jogos, o fato daquele momento ser esperado pelos estimados assalariados para espantar os seus fantasmas e encontrar algo pelo que esperar nessa vida repetitiva. Talvez exatamente por isso o futebolzinho de sábado devesse ser um momento de alegria e de gozação. Mas o que acontece é exatamente o contrário. Para alguns, , acaba se tornando mais uma repetição do selvagem mundo que vemos todos os dias em nosso trabalho, um ambiente de competição, onde se que ser melhor do que o outro custe o que custar, e se denigre o semelhante para se mostrar mais capaz.

Assim, o que se vê são frustrados, que na busca de afirmação tratam um momento de descontração como coisa mais séria do mundo, somente para mostrar que ali, dentre o séquito masculino, sua crista é maior, e no futebol, a expressão máxima do que seria "a criatividade do homem brasileiro", ele é o melhor, o bem-sucedido, o ego a ser inflado. E isso não se afirma pelo talento(posto que se houvesse estariam em algum clube vivendo disso).Se humilha, chama-se o companheiro de burro, impoe-se o macho no movimento que ofende o corpo alheio. Tudo para na segunda-feira ser vítima mais uma vez da humilhação do capital, das responsabilidade da família, da irracionalidade de nossa sociedade.

Talvez o futebol seja realmente o ópio do povo brasileiro, dentre tantos outros entorpecentes disponíveis.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Diálogo descontextualizado

-Você poderia achar que eu sou um psicopata.

-Eu não pensei nisso.

-Mas poderia. Existe um precedente.

-É verdade.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Coragem

Não sei bem o jeito como as coisas funcionam, mas elas funcionam. Não há caminho de volta, e arrependimento é uma palavra que não vale muito. O que sei é que temos que fazer o que tem que ser feito. Depois, podemos chorar , arrancar os cabelos, ficar desesperados. Tudo vale, menos a anestesia da inércia, o alívio parasita do comodismo. Pois o ¨não fazer¨ é exatamente isso, um parasita que destrói a nossa vontade de viver. O pior arrependimento é o de não se viver.
E aos que dizem que a paciência é a senhora das virtudes, complemento: somente aos que tem coragem de viver.
Onde há desejo, há uma vontade a espera de ser encontrada.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Até hoje

Lembro...

O meu primeiro gozo

tua boca a provar o gosto
do meu desejo pelo seu corpo
Aspirando suspiros
Devorando gemidos

O relevo suave dos seus pêlos
acariciando o meu rosto

Na trilha de beijos pelo seu corpo
Onde deixei meu desejo
E gozei de arrepios.